quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Ligia Fagundes Telles


Lygia Fagundes Telles nasceu em São Paulo, em 19 de abril de 1923. Passou a maior parte da infância em cidades do interior do estado onde seu pai foi delegado e promotor público. Ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo. Ali participou ativamente da vida literária universitária, integrando a comissão de redação das revistas Arcádia e 11 de agosto. Casou-se com o professor Goffredo da Silva Telles Júnior. Desse casamento tem um filho, Goffredo da Silva Telles Neto. Foi casada depois com o professor e escritor Paulo Emílio Salles Gomes. É membro da Academia Paulista de Letras, desde 1982, e da Academia das Ciências de Lisboa, desde 1987. Aposenta-se como procuradora do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo.

Características de sua escrita:

A ficção de Lygia Fagundes Telles possui características do período conhecido como Pós-45. Alguns estudiosos defendem que sua obra pertence à Geração de 45 – denominação dada a um grupo de escritores, especialmente poetas, que surgiram na literatura brasileira na década de 1940, cuja atitude estética foi a de reagir contra o clima da primeira fase modernista. Contudo, o caráter ficcional de sua obra sintoniza com o existencialismo - vertente cultural da época - além de correntes literárias como o expressionismo e o surrealismo. A escritora, porém, sempre acompanhou as mudanças existenciais, políticas e sociais que ocorreram ao longo de sua carreira.
Sua obra versa sobre as experiências humanas, sobretudo as experiências interiores.
Engajada politicamente, a escritora sempre deixou clara a sua preocupação em relação às questões políticas e sociais e ao papel do escritor enquanto formador de opinião.

Poesia de Lygia Fagundes Telles.

FRAGMENTOS


"As Meninas"

- Aleluia!
Tive vontade de agarrá-la num abraço e atirá-la no ar tã porosa, tão leve, os panos abertos em asas, adeus, Ifigênia! Estou subindo longe, nuvens, estrêlas, já estou além dos astros! Solidão, solidão, ai! Que aqui faz frio. Mas tem Deus, não tem Deus, hem, minha irmãzinha?
Se tem Deus não tem solidão, é música, é calor, é afago, mão passando de leve na carinha que nem existe em corpo nem velhice nem infância, só Deus. Só o Deusinho, boa noite, Bula. Boa noite.
- Estou apaixonada, irmã.
- Resfriada?
- Também – respondi tirando o lenço do bolso do pijama. Ela é surda como uma porta, a gente precisa falar num tom acima do normal, o que é meio cansativo. Além do mais, na maioria das vezes as palavras lhe entram por um ouvido e saem pelo outro como uma revoada de andorinhas. Enfim, a companhia ideal.
 Pisquei-lhe o ôlho e ela sorriu, os dentões de porcelana rosada exibindo-se na plenitude.
"Ser feliz é viver na plenitude o momento presente", disse um padre velhinho com uma expressão de quem era feliz em todos os seus momentos.

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